segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Álvaro Manuel e o ratinho...

Em época natalícia,  tem sido tradição, e crente no amor Familiar que  sempre existiu, e mesmo sem contar com  presença física da que  mais amei na vida,  que descansa agora  em Paz, no Céu Eterno,  (Alvarina Teresa)  festejou-se,  este ano de 2016, numa acolhedora saleta, com lareira, na cidade de Lagoa, no Algarve, o dia  em que as prendas são ofertas entre os  membros Familiares, presentes,  assim  como  aos que festejam, conjuntamente (Amigos),   nessa  abençoada  Noite de Natal.


Família - note de Natal.

Ora bem.  De entre as  ofertas das prendas, que foram entretanto distribuídas, foi-me parar às mãos este  Livro, que me encantou, sobretudo por se  tratar de histórias e memórias, de acontecimentos ocorridos ao longo da vida, em Luanda, terra onde nasci, estudei e trabalhei, até ao momento em que, por força de "exemplar descolonização", fui forçosamente "exilado" e definitivamente (até ver...) residente neste  encantador  Pais, à beira mar plantado... PORTUGAL.

Eis o Livro que me saiu na "rifa", e, que por força  "divinal", fez-me vir à memória um acontecimento, curioso,  que  passo a relatar,, ocorrido há já muitos anos. O titulo que me despertou a atenção, vem na página 59,  em que a Autora dera nome de " Prenda", que foi um bairro onde residi, com a Família,  longo tempo, e onde se passara o seguinte:




Estávamos numa época em que Salazar lançara um alerta... "PARA ANGOLA E EM FORÇA.. que motivou a guerra do ultramar, e, como consequência disso, passamos a viver,  um clima, em que, diariamente, surgiam coisas "do arco da velha".. e muitas vezes horrendas... ,

 Certa noite,  em que temíamos a aproximação de uma trovoada, tipo africana, estando já  em casa, perto da hora  de irmos para a mesa, a fim de jantarmos, minha saudosa Mulher, e os meus dois filhotes (ainda pequenotes),  assim como eu, sentíamos  já o vento, acalorado, soprando do lado do distante  mar.. A casa  onde vivíamos,  distanciava cerca  de mil e  muitos metros de um recinto onde  só  haviam  cubatas, habitadas por maioria  negros, às centenas, trabalhadores. Possuo filmagens dessa área...

Como ia dizendo, era já noite,e preparávamos para  atender as suplicas do filhote mais velho, quando lhe deu vontade de ir fazer o seu xixi, pelo que o colocámos sobre o bacio infantil, quando, repentinamente, surgiu de um canto da sala, um pequenino ratinho, que o amedrontou assustando-o de imediato..

Sucede que, nesse preciso momento, começamos a ouvir um barulho infernal, vindo do lado das cubatas, onde residiam os negros, e, fomos tomando conta que um volumoso grupo de negros, estava aproximando-se da área residencial, onde vivíamos, sendo a maioria  residentes, de tez branca, que trabalhava na cidade, de Luanda..

A certa altura, notou-se que eram revolucionários, de cor negra, que em alto som e berros apregoavam...  MATA BRANCO ... MATA BRANCO....

E foi nesse momento, que pegámos no filhote, ainda sentado no bacio, envolvemo-lo em cobertores e saímos porta fora, fugindo aos "criminosos", e,  providencialmente,   quando já  nos metíamos no carro, para fugirmos aos massacres, cruzámo-nos com uma equipe  de policias, que certamente alertada a tempo, se deslocou ao nosso recinto, protegeu-nos e conduziu-nos para o centro da cidade e colocou-nos num hotel residencial,  de cujo nome, neste momento, não me recordo..
Claro que as coisas começaram depois  a ser "recompostas , e o sossego regressou mais tarde.

E querem sabor a razão desta minha " historieta", que vos conto, já  com perto de noventa anos de idade?

É tão simples.... o meu filhote, que  na altura ainda era bebézito, um dia, mais tarde,  ao passarmos junto ao tal hotel,  para onde tínhamos  sido "acoitados"... faz-me a seguinte pergunta...

Papá, foi para aqui que fugimos, naquela noite, com  medo  do  ratinho quando eu estava a fazer o meu xixi ? 

Que inocência.... Para ele,  a nossa fuga... foi por causa do inocente ratinho.

Tá?!......

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