quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Hora da Saudade

Sou ainda  do tempo em que uma carta expedida de Portugal com destino as Colónias, no tempo em que decorria a segunda guerra mundial, levava cerca de 3 meses a chegar ao seu destinatário, porque, primeiramente tinha que ser submetida a censura, na África do Sul.

Nessa época, a Emissora  Nacional , em Lisboa emitia programas em que as pessoas falavam  através  deles para os familiares e ou amigos.  Eu, por exemplo, recordo a conversa que então tive com a  minha Madrasta em que ela me recomendava que tomasse sempre banho de chuveiro  diariamente, pois as  mordedelas dos mosquitos  podiam fazer muita comichão... e eu. cumpria, escrupulosamente esta recomendação amistosa.

Também retenho na memória, uma cena que muito me impressionou, pois pensava eu que a escravatura tinha sido abolida, por decreto, mas o que eu assisti foi uma fila de gente de cor, na vila de Caxito, a uma centena de quilometragem de Luanda , acorrentada, pois iriam ser embarcados com destino a S. Tomé, ao que me disseram...

Esses cenários, creio, que, felizmente, ja estão ultrapassados ao sabor dos tempos... pois já la vai mais de meio século de desrolhamento pelo mato de Angola...




Encantos & Desencantos

Na vida, sempre houve encantos e desencantos....

 Isto passou-se há cerca de um ano atrás, ainda a  minha  santa Mulher era viva.

À noite,  ao vermos os resultados do Euro milhões, através da televisão, apontei os números premiados  , num papelinho que tinha à mão e entreguei-o a minha Mulher para  os ir  anunciando,  enquanto eu ia comparando com os números com que  eu preenchera o boletim do jogo..

Aconteceu, porém o seguinte..: A voz de minha Mulher,... número tal...
                                                A minha voz - ... acertei nesse número...
                                                    A voz de minha Mulher... número XIX
                                                    A minha voz... também acertei nesse número
                                                        A voz de Minha Mulher - número  Y...
                                                           A minha voz . é formidável,  joguei nesse número
                                                                A voz da  minha Mulher... número  Z.....
.                                                                   A minha voz ... ja trémula de emoção... acertei nesse também    
                                                                        A voz de minha Mulher....o último número foi anunciado,,, e,
                                                                        A minha  voz -- parabéns - estamos ricos.!!!..

veio logo ao pensamento o que  faríamos com tanto dinheiro com o que acabava de nos sair na lotaria, comprar casa própria, ajudar pessoas necessitadas, enfim, projectos eufóricos...
                                                     mas...
estava sucedendo   que minha Mulher estava mas era  ditando  os números com  que  eu tinha preenchido o boletim   em vez dos que efectivamente tinham  sido anunciados  na televisão...

Que sofredora desilusão....

Amigos da onça


Alguns episódios de que me lembro aos 84 anos de idade, nesta escadaria da vida…

Recordo uma cena que o meu falecido Pai me contou, em Luanda, e que se teria passado o seguinte:
Decorreu talvez na época compreendida entre os anos 30 e 40 do século XX, em que as ligações entre Lisboa e Luanda só se faziam de barco, levando cerca de 15 dias de viagem. Nesse tempo eram comuns os casamentos à distância, por procuração. Como consequência disso ter-se-ia passado o seguinte:
Fora combinado entre os “noivos” que, para se identificarem e serem facilmente reconhecidos logo  à chegada do vapor ao cais, o noivo se apresentaria  vestido de branco,  com um chapéu acastanhado a cobrir-lhe a cabeça.  E assim foi… Só que, nesse dia, surgiram no cais, enquanto o barco acostava, uns cinquenta indivíduos, todos vestidos de branco e com chapéus acastanhados à cabeça !
Consta que teria sido uma bela partida dos AMIGOS DA ONÇA …


Um verdadeiro milagre








Rio Cuanza - a 60  quilómetros a sul de Luanda- Angola.

Eram cinco horas da madrugada e, no parapeito do horizonte já o sol se colocava, para nos enriquecer com a sua luminosidade,  num dia calorento, como sao caracteristicos   no Verão africano..
Atrelado ao carro  Morris-1300,. o barquinho (que a foto mostra)  mais  os apetrechos de pesca  ao corrico,  e com o farnel à africana,  e com a inseparável máquina de filmar, perguntei à minha Mulher, tambem amante da pesca, se já estava tudo pronto para partirmos.

-Resposta da minha Mulher, Alvariana, " Sim, já podes dar início a nossa viagem, com destino à foz do rio"

Chegados ao nosso destino, com a ajuda de um habitante do lugar, desatrelámos o barco, e... pronto!

Dado o arranque ao motor, lá começámos a subir pela  forte corrente do rio, e, passados alguns  momentos.... truz... o carreto da cana de pesca começou a rodar ruidosamente, sinal que havia já um peixe que  mordera na amostra. e ficara  "fisgado".

Com o nosso entusiasmo,  o peixe começou a ser puxado para junto do barco, quando, repentinamente o motor para.  De imediato, lancei  mão ao  arranque para o pôr a funcionar  novamente mas... não pegava de maneira alguma. Como medida cautelar,  agarrei-me, então, a um dos remos que tinha a bordo, quando este por qualquer motivo, partiu-se, e sucedeu o mesmo ao outro remo que estava sob os bancos.

Ficámos, assim, um  tanto à deriva, e a forte corrente  já estava a arrastar-nos para  uma perigosa situação.

Numa das margens, alguém ainda tentou  ajudar-nos, mas sem resultado.

Apercebi-me, perante o barulho, que já vínhamos sentindo com a aproximação da rebentação. das ondas que já estávamos  bem perto de uma situação de perigo de  vida!

Gritei  para a minha Santa Mulher, Alvarina Teresa, (que eu tratrava por Dinha):

"Dinha, REZA A NOSSA SENHORA, QUE NOS SALVE. !"

Quer acreditem ou nao, o que é certo é  que notei que a embarcaçao começara a rumar (a ser desviada) na direcção da  margem oposta onde as águas eram mais serenas.

Ao aproximarmos de terra, perguntei "Dinha já viste aquelas gaivotas ali em terra ?". Respondeu-me "Não!"
Tinha  perdido a vista durante alguma trempo e partido um braço.

Socorridos, já ao anoitecer, fomos então acompanhados até ao nosso automóvel Morris e regressados a casa, sãos e salvos. Até a máquina de filmar se salvou ...

No dia imediato fomos à Igreja,  rezar a NOSSA SENHORA.





terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Viagem Pela História de Angola...

Li, num  blogue (http://hffponte.blogspot.com/),  num post sob este mesmo titulo, um trecho que me fez recordar uma triste e comovente situação, de certa forma ligada à famosa "ponte  aérea" vivida num passado não muito distante.
Exercia eu  a função de chefia contabilista,  no Banco Totta-Standard de Angola, sob a  orientação da Direcção Financeira, numa altura em que, dada as convulsoes  beligerantes, todos os  Trabalhadores  naturais das diversas cidades da Província,  fora de Luanda, vinham-me  apresentar o pedido de transferência  de trabalho para as áreas da sua nascença, que, dadas as circunstâncias, era-lhes concedida autorização, embora com reflexo nos serviços, dada  a diminuição constante, de pessoal   qualificado.

Num momento de crise, fui confrontado,certa manhã, com o pedido do Silva, um dos meus braços-direitos, com o pedido de se ausentar dos serviços, por largo tempo, pois tinha  que embarcar com destino a Lisboa com  urgência, porque  a Mãe estava muito doente...

Respondi, "Sillva, é mais um argumento, seu, que  como muitos outros, apresentam desculpas falsas, para se irem embora daqui ; como faz muita falta, dada a falta de pessoal, não lhe é concedida autorizaçao para se afastar  das suas obrigações..."

Dias depois, o Colega Silva, aproximou-se de mim e disse-me, simplesmente isto : "CHEFE, A MINHA MÃE MORREU."

Chorámos os dois abraçados um ao outro !.

Os dois teimosos...


Um episódio que, em tempos idos, foi palco de muitas conversas entre amadores e profissionais que, em cafés, se entretinham a comentar.
Angola é um território que geograficamente se equipara a superfície igual que abrange uma área equivalente à de Portugal, Espanha, França e um pouco da Alemanha juntos. Portanto, com uma superfície territorial muito grande.
Para se ir de um ponto, ou de uma cidade, a outro, naqueles tempos “ do antigamente”, teriam que se utilizar meios motorizados, que, na altura, seriam camionetas de transporte, muito antigas e das primeiras que foram importadas do exterior.
Assim, percorriam-se, por vezes, milhares de quilómetros sem se ver “viva ‘alma”, ao longo do percurso, que, de um modo geral, era mato, e florestas. Não existiam, ainda, estradas asfaltadas, como agora!
Conta-se, então o seguinte:
Dois motoristas profissionais, a certa altura, pelo caminho inóspito, encontraram-se frente a frente, em certa zona em que só uma viatura poderia passar, sem se poderem cruzar entre si, para prosseguirem a viagem, que seria longa, e que muitas vezes levariam dias a chegarem aos seus destinos. (Angola, do antigamente…). Outros profissionais, também circulando nesses antigos caminhos em Angola, dias depois do encontro dos primeiros, foram-nos achar, na estrada, sentadinhos, a jogarem as cartas, entre si, com um ar muito feliz – GRANDES HOMENS!
Eventualmente haverá ainda de quem se lembre deste episódio africano. Este local ficou, por isso, conhecido como a “Baixa dos Dois Teimosos”.
E assim, cresceu Angola no que é hoje uma grande nação africana…


O caso do Domingos...


Ainda me recordo de, nos meus anos de estudante, em Luanda, de ter lido um documento oficial, suponho que ainda do tempo de Salazar, no qual, oficialmente, se extinguia a qualificação de cidadãos de primeira e de segunda, cuja desigualdade era aplicada, naquela época na então colónia de Angola…

O Domingos era um contínuo, de raça negra, muito estimado por toda a gente, trabalhador desde a fundação da empresa Sorel, em Luanda, já de cabelos brancos, mas muito dedicado ao trabalho.
Certo dia foi acometido por doença repentina e houve que conduzi-lo a Casa de Saúde, para consulta e tratamento adequado. 
Calhou, ser a Minha Mulher, Alvarina Teresa, secretária da Administração na altura, ter sido encarregada, pela Gerência, de cuidar e administrar no que fosse necessário, para que ao doente nada faltasse.
E assim procedeu, mas… surgiu um impedimento! Não havia vagas para recolher o doente, pois as existentes eram destinadas somente a baixas com direito a instalações de PRIMEIRA CLASSE.
Sem a menor hesitação, e a despeito da comunicação da Empresa relativa a tal facto, Minha Mulher, de imediato, tomou a decisão de instalar o doente na Primeira Classe, da Casa de Saúde.
Esta atitude, verdadeiramente humana assumida por Ela, valeu-lhe certas críticas desfavoráveis, assentes na cor da pele do doente, ao que Ela respondia ”Sou humana e gosto de fazer bem a quem quer que seja…”

(Esta Grande Senhora, Descansa agora em Paz, no Cemitério Municipal de Olhão)


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Memórias de Angola...


Iniciámos este “ velho-luandense.blogspot.com”, numa data carnavalesca, ou seja, a 22 de Fevereiro do ano 2012, atendendo ao elevado número, que nos chegam, por via da Internet, de sites, que enquadram viagens e acontecimentos, através dos tempos, vividos por personagens que moldaram a Historia de Angola.

Assim, este Blogger, espelha pensamentos e obras por parte de quem teve um percurso de vida, muito longo, na terra que o viu nascer – Luanda – e da qual, após laboriosos anos de frutuoso trabalho  -  já muito perto da data da independência de Angola - sentiu a necessidade de  se socorrer a meios clínicos, inexistentes em Luanda, -pelo que foi transportado,  por meios aéreos, a cidade de Lisboa, para se submeter a tratamentos adequados.

Na impossibilidade de corresponder ao pedido telegráfico, emitido de Luanda, para se apresentar, nessa data, na capital angolana, teve, o seguinte desfecho – Tudo quanto deixara na sua residência, em Luanda, para a qual voltaria quando se sentisse melhor, DESTRUIÇAO TOTAL DOS SEUS BENS ALI DEIXADOS…
A partir de então, vida nova!

E assim, Portugal foi o Pais de acolhimento, para o resto da vida…

Há lembranças de um passado muito distante, em Luanda, como por exemplo havia falta de energia eléctrica em certas zonas, pelo que havia os chamados Petromax a que a população se socorria para ter luz nas noites em suas residências. Às refeições era obrigatório ingerir o Quinino para evitar as febres palustres…

A água era sempre fervida, pois o caudal do rio que abastecia a zona, era contaminado.

As lavadeiras fumavam com a parte do cigarro aceso virado para dentro da boca…

As matacanhas, que se introduziam nos cantos das unhas, eram dolorosas e eram, então, retiradas por meios de facas ou canivetes.



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A descolonização

Um estudo universitário que aborda o processo de descolonização. 111 páginas de grande interesse. Leitura recomendada.


Imagens de Angola

Eis algumas imagens da grande nação Angolana....



O início...


Aproveito a ocasião para recordar os feitos das gerações anteriores que contribuíram para a construção do país que hoje é ANGOLA.

De facto é importante destacar e dar o devido valor a contribuição e esforço dos que trabalharam para a edificação da nação Angolana e que de certa forma, injustamente, se viram privados dos seus bens e frequentemente tratados como pessoas menores e até apátridas.

Deste modo aproveito a ocasião para evocar todos estes cidadãos que foram atropelados pela história e apanhados no turbilhão que é sempre o nascimento de um novo país.